Salve leitores sombrios!
Como a Sarah escreveu anteriormente, que todos estavamos de "folga", então sobrou tempo o bastante pra prepararmos ótimos posts pra vocês.
1°- Queria agradecer aos nossos leitores por enviarem alguns contos de suas autorias pra nós. E não se preocupem, os contos são lidos, avaliados e votados por todos nós, e só depois é que publicamos... espero que entendam. E por isso ficamos muito agradecidos de verdade, pois isso mostra que estamos engatinhando direitinho por entre os arames farpados da escuridão.
2°- Seus comentários são muito importantes para sabermos qual a avaliação de vocês.
3°- Ah! Vamos é logo ler esse conto que é o que mais importa.
Bons pesadelos...
Meus passos seguem um ritmo frenético, e com meus pés descalços sinto a terra úmida a cada novo movimento. Agora já consigo ouvi-los ao longe, me seguindo e sei que não vão parar. Afinal, foram criados para isso; caçarem suas vitimas com persistência e determinação. Tenho que continuar, preciso sair desse pesadelo a qualquer custo!
Consigo ver algo logo
à frente. Será minha chance? Pode ser. Não posso desistir, não agora.
Não acredito, é o meu
fim! Estou à beira do abismo, literalmente. Consigo ouvir o vento soprar, suas passagens
entre as rochas ponte-agudas simulam assobios que me fazem arrepiar. Ele
balança meu longo vestido, que agora se encontra em farrapos.
Estou decidida!
Acabarei com isso de uma vez por todas. Irei pular.
Fecho meus olhos; sinto o vento tocando meu
rosto, a terra em baixo dos meus pés descalços e lembro como tudo começou...
Meu nome é Gabriele,
mas todos me chamam de Gabi. Tenho 16 anos, e minha vida mudou no dia em que eu
o encontrei.
Minha típica vida de
adolescente não era nada normal, comparada a das outras garotas. Em casa só
ouvia discussões e na escola, bom, era o lugar que eu menos gostaria de estar.
Havia uma crença ridícula na minha pequena cidade: diziam que uma mulher com
madeixas escarlate haveria de sentenciar a cidade para as profundezas do
inferno, e para minha “sorte", nasci com os cabelos ruivos com as cores
mais vivas que alguém já viu.
É incrível como as
pessoas acreditam em bobagens como esta. Mas tudo tem um motivo, e devo admitir
que adorei dar um belo motivo para isto. Eu simplesmente dei vida à lenda.
Acordei as 07:30hs da
manhã como todos os dias. Escovei os dentes, banho, essas coisas. Porém, aquele
dia não seria nada comum. Em casa, as brigas começavam desde cedo, e descendo
às escadas pude escutar meu padrasto Rick me dizer:
— Ora, ora. Se não é a bela adormecida do cabelo de chamas.
— Vai se ferrar seu imbecil. – respondi.
Meu pai faleceu quando
fiz dez anos, e minha mãe teve o maldito mal gosto de escolher um imbecil,
arrogante e dissimulado para morar em casa conosco. Saí de casa sem tomar café,
coisa que não gostava de fazer, mas era preciso, tudo para não olhar para cara
ensebada do Rick.
Desde que minha mãe se
casou de novo, me deixou de lado, e isso me fez perceber o quanto eu era
insignificante na vida dela.
Dou um breve suspiro e
lembro-me do meu saudoso e querido pai.
No caminho da escola encontro
Margarida, ou Meg como gostava de ser chamada. Pois ela era fanática por filmes
estrangeiros e achava que ser chamada assim a faria se sentir mais importante.
Ela era uma patricinha do Paraguai, que pensava ser melhor que todos só pelo
fato de seus pais atenderem a todas as vontades da única filha.
Meg passa por mim, mas
não me nota e quando finalmente me percebe, rapidamente se afasta. Lembram da
crença que mencionei no inicio? Então, eis o motivo...
Chego à escola.
Continuo caminhando de cabeça baixa e ouvindo as típicas piadinhas sem graça de
todas as manhãs:
— Deixem à esquisita passar.
— Cuidado! Com um olhar ela pode te roubar a alma.
Escuto um coro de
risos ao meu redor. Isso me deixa extremamente constrangida, mas de certa forma
já estava habituada.
Percebo que outros
fazem o sinal da cruz com as mãos, como se eu fosse algo que os pudesse
machucar. Logo à frente, mais piadinhas sem graça. Todos os dias eram a mesma
coisa, e estaria mentindo se dissesse que já não estava acostumada. Como todos
sabem que paciência tem limite, e a minha já estava se esgotando, mas e se
acabasse? O que eu poderia fazer? Nada seria a resposta correta.
Mais um dia de aula se
passou e com ele mais e mais humilhações.
Estava voltando para
casa, tal como o final de um dia normal. Quando um grupinho de pessoas se
encontravam exatamente no único caminho que me levava de volta para minha
vidinha monótona. Achei estranho, pois quase ninguém fazia aquele percurso, mas
continuei caminhando assim mesmo. Para minha surpresa era Meg quem estava lá, e
junto com ela todos os outros que me xingavam e zombavam de mim.
— Olá Gabi! – disse Meg com as mãos na cintura.
Nada respondi, apenas
continuei caminhando.
— Eu falei com você sua esquisita do cabelo vermelho. – disse ela com a
voz alta.
Continuei caminhando.
— Não deixem que ela vá. Ela precisa aprender bons modos. – pediu ela a
dois garotos que lá se faziam presente.
Os dois estavam bem a
minha frente, bloqueando minha passagem. E os encarando com raiva pude ver o
medo de estarem tão perto de mim.
Então eu disse:
— Me deixam passar, seus imbecis!
— Calma Gabriele. Nós só queremos conversar, nada mais. – era a voz de
Meg que se aproximava.
Direcionei meu olhar a
ela. Percebi o medo em todos eles, e mesmo assim não estavam dispostos a me
deixarem passar.
Meg se destaca e me
diz:
— Escuta aqui sua esquisita. Não é só por que você tem o cabelo dessa
cor que vamos ter medo de você, e fique sabendo que essa crença ridícula que
ronda na cidade nos tempos dos nossos avós, não nos assusta!
— Vão se ferrar. Todos vocês! – gritei.
— Vamos te ensinar bons modos sua esquisita. – disse Meg enquanto
agarrava com força meu cabelo.
Não conseguia dizer nada,
tamanha era a dor que sentia. As únicas coisas que pude ver foram todos ao meu
redor se aglomerarem em cima de mim. Senti que todos puxavam meu cabelo.
Meu coração disparou
quando vi grandes mechas vermelhas caírem ao chão, e continuavam caindo. Desesperei-me
e em prantos gritava pedindo para pararem, mas eles me ignoravam e continuavam
a cortar minha madeixa vermelha.
Quando terminaram, me
largaram onde estava e todos caminhavam rindo de mim. Ao meu redor, montes e
mais montes do que fora meu cabelo um dia. Belos cachos vermelhos por toda a
parte. Fiquei a abraçá-los por um longo tempo. Passei minhas mãos na cabeça e
senti um aperto no coração.
Após algum tempo, e
com muito esforço, consegui levantar. Não queria ir para casa, não queria encarar
Rick e ouvi-lo dizer às coisas que me diria ao ver-me assim.
Desesperada, corri
floresta à dentro, sem rumo, apenas queria me isolar do mundo que tanto me
castigava. Continuei correndo por mais uma hora, até chegar ao meio da
floresta, e a sensação de estar perdida me tomar o corpo.
No céu, já se
mostravam sinais de que a noite logo chegaria. Os pássaros já procuravam seus
ninhos e eu tentando fugir do meu, se é que poderia chamá-lo assim.
O vento frio me cobria
o corpo. Tentava me aquecer com a pequena jaqueta de jeans que usava, mas não
me serviu muito. Continuei caminhando e olhando para o alto das arvores, até
tropeçar em um tronco oco e cair.
Xingava o mundo inteiro por tudo que estava
acontecendo, mas foi então que
encontrei, dentro do tronco oco, algo coberto com um tecido muito velho.
Aprecei-me a agarrá-lo, e para minha surpresa era um livro. Sim, era realmente
um livro que estava escondido bem no meio da floresta. Sua capa era escura, sua
espessura era grossa e suas folhas muito amarelas. As ilustrações eram algo a
parte, pareciam bem antigas. De primeiro encontro, não entendi, mas aquele
livro me seduziu e o levei para casa naquele final de tarde.
Cheguei em casa com a
jaqueta me cobrindo a cabeça. Já passei humilhações de mais por hoje e não
suportaria ouvir os escarros do Rick. Não sem revidar de alguma forma.
O maldito estava
esparramado na poltrona da sala, enchendo a cara para variar. Notando meus
passos ele diz com aquele sorriso asqueroso rosto:
— Olá esquisita. O que você tem hoje? Não quer vir aqui e dar um
beijinho no seu querido padrasto? Ha, ha, ha...
A vontade que tinha
era de arrancar-lhe o coração com as minhas próprias mãos, mas aquilo não
passava de um pensamento muito além de mim. Pois eu, uma garota tão pacata, não
seria capaz de fazer tal atrocidade, mesmo com um lixo de ser humano como o
Rick.
Olhei-me no espelho e
não reconheci a figura horrenda que estava refletindo ali. Meus cachos
vermelhos agora se reduziram a um escalpe deforme na minha cabeça. Foi duro
para mim, mas tinha que terminar o serviço que aqueles desgraçados começaram.
Fui até o banheiro, apanhei um barbeador de Rick e completei o serviço.
Passei a noite
acordada, lendo por completo aquele livro, que por alguma razão o encontrei, ou
ele me encontrou. Deslumbrei-me ao ler uma passagem que serviria aos meus
propósitos. Uma semana eu fiquei sem ir à escola, mas minha mãe? Ela não ligou
muito para tal fato. Semana esta que demorei até conseguir todo o material para
um ritual estranho que era descrito no livro, mas sem medo prossegui.
Velas pretas, incenso
de almíscar, um bisturi, um cálice de prata e vinho tinto. Sim, tinha tudo em
mãos, bastava esperar a próxima lua nova para começar o ritual.
Fui até o local onde
encontrei o misterioso livro. Desenhei um pentagrama com areia, como era
descrito. Uma vela negra em cada ponta e o incenso ao meio do grande
pentagrama.
Logo comecei a entoar
os dizeres descritos:
— Negra
ela é, mas brilhante! Negras são suas asas, preto sobre preto! Seus lábios são
vermelhos como a rosa, beijando todo o Universo! Ela é Lilith, que elevou as
hordas do abismo e levou homens à ruína! Ela é a irresistível realizadora de
toda luxúria, profeta do desejo. A primeira de todas as mulheres foi ela –
Lilith. Eva não foi a primeira! Suas mãos trazem a revolução da vontade e a
verdadeira liberdade da mente!
Enquanto entoava em
voz alta, apanhei o bisturi e cortei minha mão esquerda, e com o cálice coletei
algumas gostas do meu sangue. Ergui o cálice aos céus e disse:
— Lua
Negra, Lilith, irmã nigérrima. Cujas mãos formam a lama infernal, na minha
fraqueza, na minha força, moldando-me como a argila no fogo. Lua negra, Lilith,
égua da noite, você lançou sua desgraça à terra, proferiu o nome e saiu voando,
profira agora o som secreto!!!
Pus o cálice em meio
ao pentagrama e em seguida o vento soprou forte. As velas acesas ali se apagaram,
o incenso se espalhou e eu adormeci. Quando acordei, me sentia diferente,
sentia minha cabeça zunir, mas quando algo tocou meus ombros, alegrei-me. Lá
estavam meus cachos vermelhos outra vez
Sorri sadicamente. Não
acreditava que o que eu tinha feito teria dado certo. Pela primeira vez em
minha vida algo que eu fiz teria realmente dado certo. Ouço risos ao meu redor.
Não podia ser. Alguém me seguiu? Será Meg? Não, não era.
Uma bela mulher se
revelou por entre as sombras das arvores. Ela vestia um belo vestido vermelho
cor de sangue, sua pele era clara como as nuvens e seus cabelos mais negros que
a própria noite que a fazia embelezar. Seus olhos eram verdes como duas esmeraldas,
seus lábios carnudos e seu andar gracioso.
Meu corpo ficou
paralisado. Minhas pernas não se mexiam e meu coração disparava.
Aproximando-se de mim,
bem lentamente e tocando em meu queixo com sua mão esquerda ela me disse:
— Linda menina. Simplesmente linda. Á mim chamastes e cá estou eu, para
atender aos teus mais profundos desejos. Peça á mim, e eu te darei.
Ao ouvir aquelas
palavras, não pensei em outra coisa a não ser em vingança. Sim, vingança á
todos que me maltrataram durante todos esses anos. Ela permaneceu com seus
olhos fitando os meus e mesmo com medo então respondi:
— Vingança! Quero vingança á esta maldita cidade. Quero que todos
paguem. Todos!
A bela mulher
gargalhou e me rodeando disse:
— Sabes que tudo tem um preço não é? E a mim não vai ser diferente.
Terás tua vingança, mas terás que me dar algo em troca. Não te apreças em
saldar tua divida, pois no tempo certo virei até ti. Então, aceitas meu acordo?
Tudo o que queria era
vingança, nada mais que isso e não me importava o que pudesse vir depois disso.
Tolamente respondi:
— Sim! Eu aceito. Eu aceito o seu acordo.
Ela então apanhou o
cálice de dentro do pentagrama e com uma de suas unhas fez um corte profundo em
seu braço esquerdo, deixando assim o sangue que escorria cair no cálice de
prata que continha meu sangue.
Sorriu para mim e
disse:
— Beba! Até á ultima gota e terás teu primeiro passo para teu desejo.
Verás que pela manhã, tudo será mais belo.
Sem hesitar, tomei o
cálice em minhas mãos e bebi o sangue que nele continha. Senti o denso líquido
com sabor suave de ferro descer minha garganta. Ao terminar, o arremessei ao
chão, limpei meus lábios e me curvei àquela que me concedeu meu desejo. Ao
voltar-me para ela, já não estava lá. Apenas ouvi sua voz entre os uivos do
vendo me dizendo:
— Não se esqueça do nosso acordo... bela menina.
Ao apanhar o livro,
fiquei surpresa com o que estava entre suas paginas. Um anel, um belo anel com
uma pedra cor de rubi. O coloquei em meu dedo e senti uma nova mulher brotando
em mim.
Atravessei a floresta
escura mais uma vez, mas desta vez, não senti medo da escuridão que ali
predominava. Era como se eu fizesse parte da mesma. Sentia como se olhos
acompanhassem a cada passo meu. Sombras se moviam por entre as arvores, mas
nada disso me fazia temer, ao contrário, estava adorando aquela sensação.
Cheguei em casa. Já era
tarde e minha mãe estava á frente a me esperar. Ao passar pela porta ela me
diz:
— Posso saber onde estava?
— Estava entre amigos, e bons amigos por sinal.
Atravessei fitando
seus olhos e ela nada mais me disse. Apenas ficou ali, parada e me vendo subir
as escadas que me levavam ao meu quarto. Não demorei a adormecer, e não tive
sonhos naquela noite, apenas adormeci.
O dia amanhecera como
todas as manhãs. Um belo sol visitando as vidraças da janela do meu quarto e me
fazendo levantar. Fui até o espelho e não acreditava na figura que estava
diante de mim. Eu... Eu estava bela, e muito bela por sinal. Já não era a mesma
garotinha de dezesseis anos, mas sim uma mulher completa.
Olhei o belo anel que
estava em minha mão direita e sua pedra vermelha reluzia em chamas internas.
Senti uma sensação indescritível naquele momento. Sentia que poderia fazer
qualquer coisa. Qual quer coisa mesmo.
Minhas roupas já não
cabiam em mim. Lembrei-me que minha mãe guardava vestidos que não usava mais,
devido seu corpo mudará durante os anos. Abri seu antigo e isolado
guarda-roupas e deslumbrei-me quando vi um longo vestido branco. Ele estava ali,
durante todos esses anos me esperando para vesti-lo.
Seu tecido era macio e
deslizou-se suavemente pela minha pele nua. Olhei-me novamente no espelho e
pude ver o quão bela fiquei.
Demorei mais um pouco,
apreciando minha imagem em frente ao espelho. Já passara a hora de ir para a
escola, mas para que se importar com escola se eu posso ter tudo o que eu
quero? Essa pergunta surtiu um efeito idiota na minha cabeça.
Desci as escadas a
passos lentos. Atravessei a sala, e para minha surpresa, encontro Rick. Como
sempre ele estava jogado no sofá, mas ao me ver, arregala seus olhos e diz
maliciosamente:
— Uau! Mas quem é você? Alguma amiga da esquisi... quer dizer, da Gabi?
Ri mentalmente, pois
ele nunca tinha me chamado de Gabi antes e agora estava ali, feito um
cachorrinho babando por um filé.
— Sim, sou. Me desculpe por estar incomodando, é que ela não estava se
sentindo muito bem, então resolvi vir até aqui. – respondi.
— Não sabia que ela tinha amigos. – disse ele sinicamente.
— É, nem ela. – falei baixo.
Minha mãe não estava
em casa, pois era de seu costume ir até a capela próxima a nossa casa e lá
fazia suas falsas orações, tentando manter a falsa carapaça de vitima, por
conceder ao mundo uma garota de cabelos vermelhos, mas nos olhos daquela
cidade, um demônio perdido na terra.
Segui com passos
lentos até Rick, sorri, e lhe disse:
— Hum. Então você é o padrasto da Gabi que todas as garotas falam?
Alimentei o ego de
Rick, tal como alguém faz ao alimentar um cachorrinho na hora do almoço, onde o
mesmo ao acabar a refeição, deita-se esparramado em qualquer monte de jornais
velhos. Com Rick não foi diferente, já que a semelhança entre ele e um animal
não estava tão distante assim.
— Dizem isso mesmo? – perguntou ele com um sorriso que mostrava até os
últimos dentes da boca.
Sorri mais uma vez,
mentalmente claro, pois não podia me dar ao luxo de perder essa oportunidade.
— Sim, mas é claro que dizem. Não seja modesto, ou vai me dizer que não
sabe a fama que tem nessa cidade?
— Bem é... não queria dizer, mas é tudo verdade o que dizem. – o idiota
confirmou.
Então pus a mão em seu
peito e senti seu coração pulsando. O direcionei até a parede da sala. O
desgraçado já ria sinicamente pensando que ia se dar bem. Então o surpreendi. O
anel brilhou mais uma vez e a sensação inexplicável também.
Sorri e lhe disse:
— Então vamos brincar um pouquinho... Papai!
O verme me olhou com
surpresa, tal qual fez seu sorriso murchar como uma planta morta. O Idiota
tentou mover-se, mas para sua surpresa, seu corpo estava sendo suspenso na
parede.
Olhei novamente o
anel, só então percebi o que aquele brilho flamejante queria dizer. Ele tornava
meus desejos reais.
Sorri, gargalhei e
então lhe disse:
— Poupe o fôlego seu imbecil. Agora nós vamos brincar de algo muito
divertido que se chama; “Agüente o quanto puder”. – passando levemente minhas
mãos em seu rosto, com sua barba ainda por fazer, continuei:
— Vou lhe explicar a
brincadeirinha. Vou fazer algumas perguntas e se você responder corretamente,
te deixo viver mais uns minutos. Mas se não, perderá uma parte do dessa carcaça
imunda que chamas de corpo!
— Sua desgraçada. Me deixa sair daqui! – gritou ele.
Abri as mãos e
instantaneamente seus braços e pernas ficaram esticados e colados na parede,
tal como uma assistente de um lançador de facas do circo.
Com um sorriso insano
no rosto, falei:
— Resposta errada. – isso o fez gritar. —
Vamos tentar mais uma vez, mas agora me espere fazer a pergunta.
— Vai se ferrar sua bruxa. Quem é você?
Com um único dedo, fiz
torcer seu braço direito. Isso o fez gritar feito bebê faminto.
— Já vi que você não sabe brincar. Mas já que quer saber, irei te
contar. Eu sou aquela quem você humilhou durante todos esses anos. Anos estes
que você irá compensar com seu sangue, gota por gota.
Mal havia começado e
ele já chorava feito uma mocinha. Nunca sentira algo semelhante em toda a minha
vida.
Olhei em seus olhos e
respondi:
— Quem eu sou? – dei uma breve pausa. —
Eu sou Gabriele.
Seus olhos quase
soltaram de suas orbitas e de sua boca não saiu uma única palavra...
— Há, vamos. Não fique assim, prometo que isso tudo irá acabar rápido,
pois minha agenda esta cheia.
Ele gritava e babava.
Implorava por sua miserável vida, mas ignorei todos os pedidos daquele porco
imundo.
— Seu frouxo. Honre agora o que tem entre as pernas e não chore feito
uma garotinha.
— Por favor... me deixe ir. Eu prometo ir embora, te deixar em paz.
— Deixar em paz? Quem é você pra saber o que é paz? Seu imundo!
Lagrimas escorreram de
meus olhos e um sorriso insano brotou na minha face. Ergui minha mão e arranquei-lhe
o braço direito.
Ele continuava a
gritar, até chegou a ameaçar desmaiar, mas não deixei. O queria vivo, até o
último instante.
— O que acha de disso seu imbecil? Ainda quer me chamar de esquisita?
Quer mesmo? – neste momento, me vieram ás piores lembranças que eu poderia ter
daquele inútil. Não me controlando gritei:
— Eu quero vingança!!!
Arranquei-lhe o braço
que restava e as pernas. Seus músculos ainda resistiram um pouco, mas logo ouvi
os tecidos de sua pele rasgarem-se e o som que seus ossos faziam, parecia
música aos meus ouvidos.
Sorri, e o vi agonizar
bem a minha frente. Antes de dar seu último suspiro de vida, arranquei-lhe o
coração e assisti seus olhos perderem o brilho. O contemplei ainda pulsante
entre meus dedos, então o esmaguei com minhas próprias mãos.
Quando terminei com
ele, notei que meu vestido estava manchado pelo seu sangue. Considerei isso
como meu premio. Agora, vamos atrás de mais uma que me rejeitou, e sabia
exatamente onde a encontrar. Na capela...
Olhares curiosos
cobriam meus passos até a pequena capela. Pobres coitados, tão insignificantes
nas suas máscaras. O medo estampado em seus rostos, nada me dava mais prazer.
A pequena porta de
madeira estava trancada e não foi nada difícil pô-la a baixo. Logo vi minha
querida mamãe, de joelhos e com seu véu de puritana lhe cobrindo a cabeça.
Apreciei a expressão de medo que lhe dominava a face.
Pegou sua bíblia, na
tentativa fútil de me afastar. Mas o que ela estava pensando? Que aquele livro
me queimaria? Que me faria perder as forças? Foi a coisa mais tola que eu já vi
alguém fazer.
Com um sorriso sádico
no rosto falei:
— Olá, mamãe.
Mamãe me olhou
apavorada, e me reconheceu logo de cara, mas não conseguia dizer uma única
palavra. Caminhei até ela, passei minha mão em seu rosto e lhe disse:
— Mamãe, mamãe. Por que me deixastes de lado? Por vergonha? Seria mais
prudente ter me matado quando nasci e não ter deixado me tornar o que me
tornei. Agora, bom, agora já é tarde.
Ergui minha mão e a
fiz ser arrastada de costas pelo centro da capela. Seus gritos de pavor eram
espalhados em ecos pelo local. Não resisti e gargalhei incontrolavelmente.
A virei para mim e perguntei:
— Sabes o que é vergonha? Sabe o que é passar a sua vida inteira sendo
ridicularizada por causa de uma maldita crença? Sabe mamãe?
Ela em prantos me
respondeu:
— Não minha querida. Me desculpe... me desculpe...
— Sabe de uma coisa? Hoje é seu dia de sorte. Pois irá experimentar um
pouquinho de tudo o que eu passei.
Á arrastei pelos
cabelos até a praça principal. Seus gritos chamaram a atenção de curiosos, mas
não me importei. Pra ser sincera até gostei.
Diante do centro da
praça, ergui minhas mãos e do solo de concreto maciço, brotavam raízes secas e
negras. As ordenei que elevassem minha querida mamãe a um ponto que toda a
cidade a pudesse ver. De ambos os lados às raízes começaram a se alvoroçar,
crescendo e entrelaçando-se com os membros da minha querida mamãe.
Suas roupas foram
arrancadas, à deixando completamente nua, enquanto as pontas das raízes lhe
riscavam a pele como chicotes. As mulheres presentes naquele fim de tarde,
chamavam-me de bruxa, enquanto os homens partiam ao meu encontro.
— Calem-se seus idiotas! – gritei. — Vocês são os culpados
pela morte dela e não eu. Foram vocês que acreditaram em uma crença tão banal e
que a mesma criou vida própria, como vocês podem ver diante de seus olhos.
Agora aceitem as conseqüências!
Os homens foram pegos
de surpresa pelas mesmas raízes que prendiam mamãe. Elas os pegaram pelos pés.
Não demorou muito até que lhes cobrissem o corpo e os puxasse contra á terra,
esmagando assim seus corpos frágeis e regando a terra que tanto veneravam.
Enquanto isso, os
chicotes de raízes negras arrancavam as camadas de pele da minha querida mamãe,
deixando a mostra seus frágeis músculos e alguns ossos. Poupei as mulheres,
para que narrassem esse dia tão glorioso para mim no decorrer dos anos, e ter a
certeza que meu nome jamais será esquecido.
Não fiquei para ver o
triste fim da minha mãe, pois a mesma já estava agonizando em seu leito de
morte. Apressei-me, pois tinha um último encontro. Tinha um encontro com Meg...
O crepúsculo já se
anunciava no céu quando já caminhava em direção à escola. Já era tarde para
ainda estarem em aula, mas todos estavam entusiasmados para a festa de
aniversário da cidade e sabia que estariam lá, preparando os adereços para a
ornamentação da festa. Queria poder ver a cara deles ao verem a bela decoração
que deixei na praça central, mas não lhes daria essa chance. Nunca!
Meus pés tocavam
graciosamente a terra úmida, me fazendo sentir as pequenas pedras machucando
levemente meus pés. Olhei para o anel que estava em meu dedo e disse:
— Obrigada. Obrigada por tudo...
Finalmente cheguei ao
meu lugar de sofrimento. Contemplei ao longe todas as salas. Uma única luz
estava acesa, a da quadra de esportes. E isso significava que todos estavam
reunidos e trabalhando duro para a ornamentação da festa da cidade. Pobres
diabos, ignorantes e hipócritas, irão pagar por seus erros e será hoje.
O portão de ferro
estava trancado. Olhei e sorri. Já dominava bem os poderes do anel. Então
estendi os braços e o portão foi posto á baixo.
O vento soprava
incessantemente, fazendo meu vestido e meu cabelo esvoaçarem. Caminhei até as
escadas, desci até quadra e abri de supetão o grande portão feito com chapas de
aço. Todos olharam espantados, fazendo cochichos entre si.
Caminhei em direção a
todos com um olhar diabólico, até que alguém que estava entre todos me disse:
— Mas quem você pensa que é?
Para minha surpresa
era Meg, a pessoa quem eu queria encontrar, mas me privou de toda a diversão de
procurá-la.
— Ora, ora, ora. Mas era quem eu estava procurando... Você! Você sua
porca imunda! – disse apontando meu dedo indicador para Meg.
— Ótimo! Era só o que me faltava. Mais uma esquisita do cabelo
vermelho. Posso saber quem é você? Ruivinha dos infernos!
— Eu sou aquela a quem você infernizou a vida, que humilhou, que privou
de ter uma vida normal. Eu sou seu pior pesadelo. Eu sou Gabriele.
Sua expressão estava
estática e todos a sua volta não acreditavam no que ouviam e viam. Poderia passar
a eternidade assistindo a esse espetáculo.
Segui caminhando em
sua direção, até podia ouvir as batidas do seu coração. Tão fortes que parecia
que iria explodir a qualquer momento, mas não queria perder a chance de
perdê-la assim tão rápido.
— Mas como? Como é possível? A Gabriele que conheço é uma garota e você
é uma mulher. – disse Meg tropeçando em suas próprias palavras.
— Sua imbecil. Isso não importa. Sou uma nova mulher como pode ver.
Agora todos vocês irão pagar pelo erro dessa porca imunda! – gritei.
Meg tenta correr, mas
paraliso seus pés, a deixando como um ratinho sem saída enquanto o gato vai ao
seu encontro. Os dois imbecis que sempre andam com Meg se encorajam a ficar
diante de mim, mas com um simples gesto com as mãos faço suas cabeças girarem
em 180°. Ainda posso escutar seus ossos estalando. Isso provocou o desespero de
todos que lá estavam e muitos tentaram escapar, mas tranquei a porta, deixando
meus porquinhos encurralados.
Os encaro novamente e
faço um sinal negativo com o dedo indicador. Ouço choros, sussurros e gemidos.
Não me contenho e grito:
— Calem-se seus animais! Vocês não passam de cadáveres que ainda estão
de pé. Então por que o desespero?
Continuei ouvindo
choros tímidos entre eles, mas ignorei. E com um simples dedo erguido, fiz Meg
vir ate mim, arrastada por forças ocultas. Estávamos lá, eu e Meg. Isso me fez
lembrar um velho e conhecido ditado; Um dia é da caça e outro do caçador. E
hoje, é o dia da caça se levantar contra o caçador!
— Olá Meg. – eu disse.
— O que você quer? Deixe-me ir.
— Te deixar ir? E que graça teria? Não Meg, tenho outros planos pra
você.
— Não, por favor. Gabi, não...
— Poupe-me das suas lamentações, minha leitoazinha.
— O que você quer dizer com isso?
— Que bom que perguntou. Lembra que tanto implicou com meu cabelo
vermelho? Que por causa dele me fez
passar por humilhações e tudo por culpa de uma crença idiota! Mas agora, irei
te dar um motivo para temê-lo.
Esvoacei meus longos
cachos e os transformei em grandes labaredas, cujas tocavam a pele de Meg,
arrancando-lhe desesperados gritos de dor e agonia. O cheiro de carne queimada
se propagava no ar, e nada me fazia tão feliz naquele momento. Vi suas roupas
queimarem, os tecidos de sua pele chamuscarem e enrijecerem. Seu cabelo sendo
reduzido a nada. Estava realmente assistindo a um belo espetáculo.
Algum imbecil do meio
dos outros tentou bancar o herói. Ele tentou me atacar com uma cadeira. Gesto
tolo e decisivo para mim.
Foi então que lhes
disse:
— Se vocês se doem por essa porca assada, então fazem parte do mesmo
chiqueiro. Bem vindos ao meu banquete!
Dito isto, todos os
sessenta jovens que estavam ali, entraram em combustão instantânea. Transformando
a quadra de esporte da escola onde estavam sendo preparados os adereços para a
festa da cidade, em um grande churrasco humano.
Gargalhei ao som dos
gritos de dor deles e continuei cada vez mais alto, mas algo me chamou á
atenção. Alguém Por entre as chamas caminhava lentamente, como se as chamas não
a queimassem. Parecia uma mulher, sim era uma mulher, e saindo de dentro das
chamas ela se revelou na mulher da floresta. Lilith.
Com um sorriso
estampado no rosto e um leve bater de palmas ela me diz:
— Bravo minha criança. Muito bom. Vejo que minha ajuda foi bem aceita,
assim também como minha joia infernal. – ela apontou para o anel.
— Eu tive a minha vingança, é isso que importa.
— Fico feliz em ouvir isso, pois vim saudar sua divida, minha criança.
— O que quer em troca? Já não basta estes porcos imundos que lhe
ofertei?
— Ofertou-me? Nada aqui me foi ofertado. Tudo o que fizestes foi te
deleitares da tua vingança, mas agora que já saciastes a tua sede, esta na hora
de saciar a minha. Vim buscar sua alma!
Não consegui emitir um
único som, e na tentativa inútil, tentei usar o anel contra ela. Ela então riu
sadicamente e me disse:
— Sua idiota. Não entendes que esta joia pertence a mim e jamais faria
nem um dano a sua própria dona? Agora, quero-a de volta.
— Já que quer, terá. – enquanto dizia isso, tentava arrancar o anel do
meu dedo.
— Poupe seus esforços. O anel jamais sairá. O portador volta com o anel
ao seu lugar de origem, o inferno!
Não podia ser, estava
tão cega e com sede de vingança que nem tinha pensado nisso. Caí em prantos
diante dela, lhe pedindo misericórdia.
Ela gargalhou alto e
disse:
— Devias ter pensado nisso antes. Agora, já é tarde de mais.
Consegui apanhar um
grande pedaço de uma vidraça estilhaçada e corri para bem longe dela. Com a
vidraça na mão e com muita coragem, amputei o dedo que carregava o anel. Em
meio as lagrimas e muito sangue, o segurei e o arremessei contra ela.
Corri, corri o mais
rápido que pude, mas foi então que a ouvi dizer:
— Obrigado pela devolução, mas não é o suficiente. Não corra minha
gatinha indefesa, você não tem saída. – em seguida escutei um assobio. E logo
ela disse novamente:
— Estes são meus bichinhos de estimação. São cães do inferno e eles iram
te arrastar para o inferno, quer queira ou não.
Corri cidade à dentro,
na tentativa de escapar das garras daqueles malditos cães infernais. Agora
estou aqui, na beira de um abismo, tentando por um fim nessa perseguição.
Tentando me redimir, tentando ir a um lugar melhor que o inferno, já que me
privei do céu. Agora só me restava o vale dos suicidas.
Os latidos se
aproximam velozmente, e o coração de Gabriele batia cada vez mais acelerado. Em
instantes Lilith aparece montada em um grande cão com um par de chifres e uma
coleira de correntes incandescentes, e logo mais duas criaturas surgem.
— Sua carona chegou Gabi. – disse Lilith.
Gabriele olha para
trás e responde:
— Eu jamais irei com você. Minha alma jamais pertencerá a você. Se
quiser, vá buscá-la no vale dos suicidas!
Gabriele jogou-se em
direção ao abismo. O vento soprava contra seu rosto. A sensação de liberdade se
fez presente por um breve momento. Inerte, ela despencava velozmente, rumo ao
chão de terra batida.
Seu corpo foi esmagado
devido à extrema altura e o forte impacto ao chão. Sua alma enfim deixa seu corpo
carnal e levada ao vale dos suicidas, onde a escuridão se fazia presente junto
com lama e corpos em decomposição.
Ao longe, ela podia
ouvir um rosnar. Seu coração disparou de medo, ao ver que Lilith vinha montada
em uma das bestas infernais, para buscar seu premio por direito.
O que aconteceu com a
alma de Gabriele? Foi levada para os confins das trevas, pagando assim sua
divida com Lilith, mas os detalhes, ficam para uma outra estória.
FIM
Fernando Calixto
Fernando Calixto
Feeeerrrr xuxu!!!! q coisa... é, seja aqui seja do outro lado, qd a gente contrai dívidas, alguém sempre vem cobrá-las... e geralmente com juros e correção... hehehehe
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