sexta-feira, 14 de setembro de 2012

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No fim do expediente



    Já era tarde da noite. O fim do expediente daquele escritório de advocacia já acabara à muito tempo. Uma única luz estava acesa no décimo quinto andar do prédio. Era Pedro que estava fazendo hora extra, pois estava com um caso grande nas mãos e não podia deixar passar essa mina de ouro.
    Ás 22:15 da noite, Pedro já estava quase acabando a petição para recorrer da decisão que o juiz sentenciou seu cliente. Era um empresário com grande poder, e não hesitaria em abrir as mãos para se ver livre daqueles abutres da justiça.
     – Ótimo, acabei. Agora é só torcer pro juiz apreciar a petição amanhã mesmo. – falou Pedro em voz alta.
     Pedro sentia-se cansado. Pegou o paletó que estava bem posto nas costas da sua cadeira, o pôs no ombro, levou nas mãos alguns papeis que estavam em sua mesa e em seguida apagou as luzes e se retirou da sala.
     – Nossa! Não tinha notado que estava tão tarde. Devo ser a única alma viva aqui nesse prédio. – disse o jovem olhando para o relógio.
    Com pouca iluminação, ele notou ao longe uma mulher. Ela estava parada de costas para o elevador olhando para uma das janelas e apreciando a vista da noite. Pedro que era mulherengo não perdeu tempo e já ensaiando a sua abordagem se dirigiu a moça.

     – O que uma moça como você esta fazendo a essa hora nesse prédio?
     – Me desculpe, eu sei que é tarde. É que eu sou estagiaria e trabalho em um dos escritórios do prédio. Só estou esperando meu noivo vir me buscar.
     – E ele não veio até essa hora? Isso é uma desonra, deixar uma moça tão bela esperar sozinha nesse prédio que mais parece uma carceragem para os estagiários. – disse Pedro olhando para mão direita da moça, e notando que nada existe além de uma marca de anel.
     – É que nós discutimos noite passada, mas eu sei que ele está vindo me buscar, disso eu sei. – disse a moça segurando as mãos na altura do peito e continuou olhando para fora da janela.
     – Você não quer companhia? – perguntou o jovem apoiando a mão esquerda perto da janela e bem próximo da moça.
     – Não obrigada. Já estou acostumada a ficar sozinha nesse prédio.  Ninguém nunca me nota mesmo. – respondeu a moça com um leve pesar em sua voz.
     – Mas eu insisto. Jamais me perdoaria se alguma coisa acontecesse a uma bela jovem como você! – disse Pedro com um olhar e um tom malicioso.
     – Você tem certeza mesmo? – perguntou a jovem, mas dessa vez com um tom surpreendentemente sério.
     Pedro estranha a repentina mudança na jovem, mas como ele não deixa escapar nem um rabo de saia, prontamente respondeu:
     – Você tem a minha palavra. Se caso o seu noivo não vir eu te faço companhia. O que acha?
     – Hum... A sua palavra? Eu aceito!
     Nesse momento pode-se ouvir uma das portas das salas se fechar com supetão. Pedro vira-se na direção de onde veio o barulho, mas quando retorna para falar com a jovem, não há ninguém além dele, tornando o silêncio a sua única companhia.
     – Não pode ser! Onde diabos ela se meteu? – perguntava-se Pedro alvoroçado e olhando de um lado para o outro.
     Infelizmente nosso amigo perdeu mais uma de suas conquistas. Desanimado, ele pega suas coisas e se dirige ao elevador.

     Olhando fixo para a petição que lhe deu tanto trabalho e que futuramente lhe renderá um bom dinheiro para alimentar a sua ganância, ele s
egue caminhando e distraído continua lendo o seu trabalho, mas sem notar que a cabine do elevador ultrapassa o andar onde estava.

     A porta se abre e o nosso amigo Pedro despenca quinze andares abaixo.
     No dia seguinte, somente a noticia que um jovem advogado que trabalhava no prédio comercial da Leal Moreira em Belém, sofreu um
acidente, despencando do elevador que estava com a porta aberta, mas sem a cabine interna.


     Com o tempo as pessoas foram esquecendo a noticia, assim como também a de uma jovem estagiaria de direito que à vinte anos foi abusada e morta no mesmo andar e no mesmo prédio.
     A jovem encontrou enfim a companhia que tanto esperou. Alguém que ficasse com ela enquanto seu tão esperado noivo a viesse buscar.
     Alguns dizem que até hoje no décimo quinto andar do prédio, pode-se ouvir bater de teclas, outros dizem que escutam aporta do elevador se abrir quando chega ao décimo quinto andar, e se prestar bem atenção, você poderá ver uma linda jovem olhando pela janela, sozinha em meio ao escuro e silencioso prédio.
     Se não acreditas, visite o prédio as 22:30 e tire suas próprias conclusões

Fim
Fernando Calixto







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