quinta-feira, 13 de setembro de 2012

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O nascimento de crow, o ser das trevas

      



      O seu parto foi complicado, onde por milagre sobreviveu, ou alguma outra força sobrenatural o queria vivo. O nome que recebeu ao nascer foi Diego de Sousa Cortez, na cidade de ouro preto no sudeste do país, no final da época da febre do ouro.
      Seu pai que era um homem beberrão e mal humorado, não aceitava dividir a mulher que tinha com outro homem, mesmo que esse fosse sangue do seu sangue. Todas as vezes que chegava em casa e via sua esposa tomando conta de seu herdeiro, uma raiva surpreendente tomava conta de seus atos.
      Ao escutar os brutos passos de seu pai, o pobre Diego Cortez largava o colo de sua mãe e corria desesperadamente ao encontro de um velho e pequeno guarda roupas, onde fechava os olhos e imaginava que estava escondido em um deposito de um navio qualquer. Lugar que para ele, era o segundo lugar mais seguro que pudesse existir, pois o primeiro sempre foi o aconchegado colo de sua mãe Verônica.

      Uma certa vez, seu pai chegara embriagado em casa, porém, dessa vez ele parecia diferente. Não chegou dando fortes passos no humilde chão de madeira, nem deu berros anunciando sua chegada. Roberto aparece como um vulto e de cabeça baixa, bem ao lado de Verônica que estava com Diego que apoiava sua cabeça em seu colo.

      – Seu bastardo! Não encoste na minha mulher! – disse Roberto surpreendendo mãe e filho que descansavam tranquilamente.

      Diego ainda conseguiu sentir o forte bafo de bebida que vinha do seu pai. Sua mãe lança um olhar de medo, mas antes mesmo de dizer alguma coisa é surpreendida por Roberto, que agarra seus longos cabelos castanhos com extrema violência.

      O pequeno Diego entra em total desespero. Seu pequeno corpo paralisa diante da violenta cena.

      Ele grita, chora ao ver sua querida mãe ser espancada com tanta força, que conseguiu escutar um de seus dentes caírem ao chão. Um sentimento ainda não conhecido por ele se manifestou em seu pequeno coração de criança. O ódio rosnava como fera presa ansiando por liberdade.

      Diego fecha as mãos com tanto ódio que sentia naquele momento, que seus dentes ficaram à mostra como um animal selvagem. Seus olhos ficam fixos no seu bêbado pai que se divertia em espancar sua querida mãe.
     
       Ele corre para a cozinha e abre a única gaveta do armário que conseguia alcançar, onde por sorte ou puro azar de seu pai, era exatamente a gaveta de facas.

       Pega a mais longa e afiada, dá um leve giro na lamina e consegue ver seu reflexo. Observa e até gosta de ver a chama do ódio em seus olhos.

       O silêncio toma conta do lugar, a sessão de espancamento parecia ter fim, ele se aproxima calmamente até a sala e vê o corpo de sua mãe já sem vida, estirado em meio na pequena sala.

      Por conta da bebida, seu pai não agüenta ficar de pé e permanece sentado ao lado corpo, Diego o encara no mais profundo ódio. Seu pai lança um sorriso sarcástico e pergunta:

      O que pensa que pode fazer com isso, guri? Anda, me dê isso antes que se machuque, ou vai ter coragem de machucar seu querido papai?

      O pequeno garoto nada disse, mas seu pai sentiu medo ao ver que da boca de Diego nem uma palavra foi pronunciada ou qualquer tipo de som que indicasse medo. Com os dentes ainda a mostra Diego salivava, e se aproximando cada vez mais perto e com a faca na mão ele faz um pequeno corte em sua mão esquerda, em seguida passa a língua lentamente sobre o corte sem tirar os olhos do pai.

      Roberto ao ver aquilo percebe que Diego não é mais o mesmo, seu pai entra em desespero e solta gritos escandalosos.

     
Alguém me ajude! Socorro! Alguém!

      O pequeno Diego com a faca empunhada em sua mão direita, arrastava a lamina no velho assoalho de madeira, mas antes de se aproximar de seu pai ele escuta a porta da frente se abrir de supetão. Imediatamente ele solta a faca e deixa junto ao seu pai que já estava estático de costas para a parede.

      Eram seus vizinhos que com os gritos de Roberto, entraram na casa desesperados, e ao verem Verônica no chão toda machucada e sangrando deduziram o que era obvio. Acudiram o pequeno Diego que estava recolhido no chão com a mão sangrando e sem seguida chamaram a policia. Seu pai foi detido e Diego como não tinha parentes para que ficassem com sua tutela, foi mandado para um orfanato.

      Nas primeiras semanas, Diego permaneceu calado. A cena em que via sua mãe sendo espancada até a morte ainda lhe maltratava, e durante dias ele permaneceu em claro.
Procurava o sono, mas o sono não o encontrava.

      Diversas vezes durante à noite, escutou vozes chamando seu nome, e em uma das noites, Diego seguiu a origem das vozes até o corredor escuro e deserto do pequeno orfanato, e para sua surpresa, a imagem de sua mãe aparece no fim do corredor. Machucada, sangrando, com as mesmas roupas rasgadas que usava na noite em que foi morta, e com o mesmo olhar de medo ela lhe diz:

      – Meu pequenino, meu filho. Eu sinto tanto a sua falta, veja o que fizeram comigo, veja o que eu me tornei.

      O pequeno Diego olhava a imagem com os olhos cheios de lágrimas, o coração pulsando forte, mas escuta atenciosamente o que sua mãe lhe diz.

      – Mamãe! – diz Diego com as mãos fechadas e com lagrimas caindo sobre seu rosto.

      – Vingue a minha morte, castigue à todos aqueles que não merecem viver e não lhes dê perdão. Todos foram culpados, todos! – gritou a imagem de Verônica, que logo em seguida sumiu misturando-se junto á escuridão do corredor.

      Dessa noite em diante, o pequeno Diego não dormia, apenas descansava o suficiente para repor as forças. Agora tinha um propósito, tinha uma meta, tinha um caminho a seguir. Castigar a todos os que não mereciam perdão.

      Diego se aproximou de alguns pequenos órfãos, tão frágeis e inocentes, não seriam tão difíceis de dominar, pensou ele. Observando um certo garoto que se chamava Paulo, ou Paulinho que é como todos os chamavam. Percebeu o quão egoísta era, ele não gostava de partilhar seus pequenos brinquedos, mas adorava pegar sem permissão os que não lhes pertenciam.

      Diego se aproximando de Paulinho lhe diz:

      – Vejo que você é bem esperto, usa os brinquedos deles só para não correr o risco de alguém quebrar os seus favoritos. Sabe, eu também fazia isso antes de vir pra esse lugar, e até hoje os meus brinquedos favoritos eu escondi no topo da arvore que esta no pátio e ainda estão como novos.

      – Sério? – perguntou Paulinho arregalando os grandes olhos castanhos e largando o carrinho que tinha nas mãos.

      – Sério, e digo mais. Se você quiser eu dou todos eles pra você. Tudo o que tem a fazer e ir lá e buscá-los. – respondeu Diego abaixando-se e ficando nas alturas dos olhos de Paulinho.

      Em um pulo o garoto fica de pé e logo indaga:

      – Então vamos, quero ver os seus brinquedos. Quero ver a cara deles quando eu aparecer com brinquedos novos e eles não irão nem tocá-los!

      – Calma, hoje não. Vamos esperar até a hora do almoço de amanhã, assim não vai ter ninguém para ver o nosso esconderijo, certo? – disse Diego com um sorriso e um olhar maquiavélico.

      – Há, eu queria hoje! – resmungou Paulinho que em seguida cruzou os braços.

      – Tenha paciência que tudo valerá a pena... – disse Diego que em seguida deu as costas à Paulinho.

      No dia seguinte, na hora e local marcados, já estava Paulinho andando de um lado para o outro e já impaciente resmunga:

      – Mas que porcaria de demora, estou aqui morrendo de fome esse cara não chega, mas ele me prometeu brinquedos novos, tomara que seja verdade!

      – Lhe garanto que é, meu pequeno ambicioso. Lhe darei uma coisa para brincar que você jamais esquecerá. – indagou Diego que apareceu de repente atrás do pequenino.

      – Nossa! O que você é? Um tipo de mágico? – perguntou Paulinho sorrindo de ansiedade.

      – Não, não sou mágico, mas sei fazer alguns truques. – respondeu Diego apoiando o braço direito na arvore do pátio do orfanato.

      – Como o quê? – perguntou novamente Paulinho, mas dessa vez com um tom de desconfiança.

      – Como voar... – respondeu Diego dando um cínico sorriso.

      – Como os super-heróis?

      – Sim como todos eles. Quer Ver? – perguntou Diego.

      – Sim, lógico que quero! – respondeu Paulinho dando pulos de alegria.

      – Certo, mas primeiro quero que você pegue os brinquedos que lhe dei, eles estão no topo dessa arvore. Eu os escondi por que estava guardando para alguém esperto e corajoso como você.

      – Que legal! Brinquedos novos e são todos meus! – disse Paulinho esfregando uma mão na outra.

      Sem perder tempo, o pequenino subia na arvore, ansioso para ver seus brinquedos novos e louco para mostrar para os outros garotos. Com muita dificuldade e alguns arranhões nas mãos, Paulinho chega finalmente ao topo da arvore, mas não encontra nada e aborrecido grita para Diego:

      – Seu burro! Não tem nada aqui, você mentiu pra mim!

      – Não menti pra você, acho que um dos garotos ouviu a nossa conversa de ontem à noite e pegou seus brinquedos. – gritou Diego para que Paulinho ouvisse.

      – E agora, como eu vou descer daqui de cima? Gritou Paulinho.

      – Isso é fácil. Lembra o que eu disse agora à pouco? Pois vou te fazer voar, apenas confie em mim. – Disse Diego estendo as mãos para frente.

      – Você promete que não irei cair? – perguntou Paulinho segurando-se firmemente em um dos galhos do topo da arvore.

      – Apenas pule feche os olhos e você voará como os pássaros. – respondeu Diego com um grande sorriso no rosto.

      O pequeno Paulinho sentiu um tremendo frio na barriga, seu coração disparava de medo, mas ao mesmo tempo de ansiedade. Voar feito o super-homem era seu maior sonho.

      Fechando os olhos ele imagina a cena de voar sobre o pátio do orfanato, os outros garotos o olhando e desejando fazer o mesmo. Cena esta que fez com que ele tomasse coragem.

      Paulinho vai soltando lentamente as mãos dos galhos da arvore, senti o vento forte sobre seu rosto, e um único impulso ele pula de cima da arvore na confiança das palavras do seu mais novo amigo. Seu pequeno corpo rapidamente despenca no ar. A adrenalina invade seu corpo, sentindo o vento bater contra seu rosto. Ele abre os braços, da um leve sorriso e pronuncia baixinho:

      – Estou voando...

      Diego ainda com os braços estendidos, lança um olhar diabólico e antes mesmo do pequeno corpo de Paulinho se aproximar ele recua os braços.  Paulinho abre os olhos e antes mesmo de sentir seu coração disparar, seu corpo encontra o chão de concreto, deixando o pátio frio, banhado em sangue.

      Diego se aproxima do corpo já sem vida, e por um breve momento apreciou a beleza da morte. Abaixa-se e tocando nos olhos de Paulinho exclama:

      – Você não mereceu viver! Sua alma agora é minha!

      A alma do pequeno garoto alimentou o demônio recém nascido das profundezas do ódio. Algo sobrenatural que vagaria pela terra atrás de almas sentenciadas à morte.

     Desse dia em diante, morreu o garoto chamado Diego Cortez e nasceu um menino homem. Nasceu o ser que se denomina CROW!
    
     Fernando Calixto


     
Aguardem as macabras e sanguinárias estórias do CROW – O ser das trevas!

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